O que escrever, o que escrever? Este blog é isto mesmo. Um "gathering" de ideias soltas para ver se dá alguma coisa...

Saturday, April 01, 2006

Portugal e a forma - um texto extemporâneo para um problema contemporâneo

Nos últimos tempos tenho vindo a constatar a relação intrigante entre Portugal e a forma. Na "troca de ideias" (que pouco mais passou de uma conversa convergente de ideologias justapostas) que tive a oportunidade de presenciar not so long ago, veio a minha paixão ao de cima e agora tenho de pôr este fait diver por escrito.
Se olharmos bem para o povo luso por um ponto de vista sociológico e atentarmos na comunicação deste, acho que nos fica patente (tentando ser o mais imparcial possível) o gosto, direi mesmo o amor que nós temos pela estética verbal e pelo sentimento que a forma pode expressar, independentemente do conteúdo.
Já o grande Eça de Queirós n'Os Maias enaltecia, através do autobiográfico João da Ega, a verve literária do Alencar, apesar das diferenças ideológicas que separavam estes dois personagens (realismo vs romantismo, se não me falha a memória) que levou mesmo a confrontos num jantar... Esta crítica (construtiva?) do século XIX mantém-se actual nos dias que correm.
Eu próprio noto em mim esse mui Camoniano bichinho neste mesmo texto, em que tento pouco expressar com o mais alto paleio que o meu parco vocabulário consegue engendrar.
Hoje em dia, num mundo dominado pelos media e tecnologias, em que a informação está ao alcance de qualquer um (mais uma verdade LaPalisseana...), a falta de ideias originais e construídas numa base palpável, independentemente de lógicas ou sentimentalismo, é preocupante.
Onde está o verve ideológico (não só literário) do classicismo grego nas nossas pseudo-elites? A exuberância esplendorosa do renascimento e do iluminismo? O que é feito da fertilidade ideológica nos bancos das universidades? (funny how Ideológico é o antónimo de Económico no Dicionário da Verbo...)
Tudo pelo cano abaixo, digo eu. O facilitismo derivado da conquista pelos nossos antepassados de regalias que agora assumimos como pilares da sociedade e inalteráveis e a incessante busca da alta produtividade como medidas de sucesso social levaram ao comodismo e apatia generalizados.
A verve expressiva substituiu a verve ideológica.
Reconhecerá o povo do nosso jardim à beira-mar plantado no que se tornou? Será que Napoleão sabia que era Napoleão? Conseguirá a formiga obreira ver a sua imagem no espelho? Rever-se-á alguém nesta minha divagação?
Questões em aberto, assim como este texto... (tenho de ir dormir que a produtividade não se compadece de devaneios literários)

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

eu revejo-me muitissimo nesta sua divagação literária, mon ami. de facto, à medida que a idade avança, o trabalho acumula e cansa a mente. cansa tanto, que o pouco tempo que temos disponível é, por preguiça, ocupado em actividades muito menos ricas em crítica, em discussão, em aprendizagem e conhecimento.
eu própria escrevo depressa e abrevio as palavras enquanto escrevo este texto. esqueço os acentos...é esta necessidade de fazer tudo depressa que por um lado nos cansa e por outro nos impede de fazer mais, de cuidar mais, de demorar.
a produtividade a que a nossa sociedade obriga esquece o desejo de saciedade mental daqueles tempos de verve...é verdade.
é dificil ultrapassar esta correria mental,e parar um pouco, olhar o sol e simplesmente senti-lo na pele. o conhecimento pelo prazer e a bela palavra enriquecem o espírito como o sol nos invade o corpo. de uma sensação de Ser.

(um texto muito bem escrito, muito agradável como o teu é um prazer de ler ****beijos*****)

2:23 PM, April 13, 2006

 

Post a Comment

<< Home