Nos últimos tempos tenho vindo a constatar a relação intrigante entre Portugal e a forma. Na "troca de ideias" (que pouco mais passou de uma conversa convergente de ideologias justapostas) que tive a oportunidade de presenciar not so long ago, veio a minha paixão ao de cima e agora tenho de pôr este
fait diver por escrito.
Se olharmos bem para o povo luso por um ponto de vista sociológico e atentarmos na comunicação deste, acho que nos fica patente (tentando ser o mais imparcial possível) o gosto, direi mesmo o amor que nós temos pela estética verbal e pelo sentimento que a forma pode expressar, independentemente do conteúdo.
Já o grande Eça de Queirós n'Os Maias enaltecia, através do autobiográfico João da Ega, a verve literária do Alencar, apesar das diferenças ideológicas que separavam estes dois personagens (realismo vs romantismo, se não me falha a memória) que levou mesmo a confrontos num jantar... Esta crítica (construtiva?) do século XIX mantém-se actual nos dias que correm.
Eu próprio noto em mim esse mui Camoniano bichinho neste mesmo texto, em que tento pouco expressar com o mais alto paleio que o meu parco vocabulário consegue engendrar.
Hoje em dia, num mundo dominado pelos media e tecnologias, em que a informação está ao alcance de qualquer um (mais uma verdade LaPalisseana...), a falta de ideias originais e construídas numa base palpável, independentemente de lógicas ou sentimentalismo, é preocupante.
Onde está o verve ideológico (não só literário) do classicismo grego nas nossas pseudo-elites? A exuberância esplendorosa do renascimento e do iluminismo? O que é feito da fertilidade ideológica nos bancos das universidades? (funny how Ideológico é o antónimo de Económico no Dicionário da Verbo...)
Tudo pelo cano abaixo, digo eu. O facilitismo derivado da conquista pelos nossos antepassados de regalias que agora assumimos como pilares da sociedade e inalteráveis e a incessante busca da alta produtividade como medidas de sucesso social levaram ao comodismo e apatia generalizados.
A verve expressiva substituiu a verve ideológica.
Reconhecerá o povo do nosso jardim à beira-mar plantado no que se tornou? Será que Napoleão sabia que era Napoleão? Conseguirá a formiga obreira ver a sua imagem no espelho? Rever-se-á alguém nesta minha divagação?
Questões em aberto, assim como este texto... (tenho de ir dormir que a produtividade não se compadece de devaneios literários)